Uma Linguagem Bem Poética



Estamos na parte final deste documentário sobre Os Maias, agora vamos saber um pouco mais sobre a abertura e a trilha sonora dessa emocionante história. Se você não leu a primeira parte, não se preocupe! Basta clicar aqui para conferir e se atualizar. E caso ainda não tenha lido a segunda parte, clique aqui para descobrir algumas curiosidades sobre essa trama.

Reprodução/ Rede Globo

Abertura de 'Os Maias' 2001

O que falar da abertura?
O tema escolhido para compor a abertura foi a canção "O Pastor", marcada por um lirismo profundo e poético, que narra a história de um pastor solitário que percorre campos e montanhas. No contexto simbólico da canção, o pastor assume uma figura arquetípica, ligada à solidão, à contemplação da natureza e ao contato com algo mais profundo e espiritual. Essa representação, rica em significado, é entrelaçada com imagens de flores — como rosas, camélias e girassóis — que surgem de diferentes formas ao longo da sequência de abertura.

Em alguns momentos, as flores parecem congeladas, como se estivessem incorporadas a um quadro pintado, reforçando a sensação de uma beleza suspensa no tempo. Enquanto essas imagens são apresentadas, de forma sutil e gradual, o nome da minissérie vai sendo escrito, sugerindo que o título emerge organicamente a partir desse cenário delicado e poético. As flores, além de enriquecerem a estética romântica da abertura, possuem um papel simbólico crucial, representando tanto a beleza efêmera da vida quanto a transitoriedade dos sentimentos, temas intimamente ligados ao enredo trágico da história, que explora amores frustrados e perdas irreparáveis.

Os créditos surgem com uma tipografia elegante e clássica, cujas letras complementam perfeitamente a atmosfera luxuosa e refinada da abertura. O estilo da fonte evoca a época retratada, com um toque de sofisticação e requinte, mas sem cair em excessos, preservando uma elegância discreta e atemporal. À medida que os nomes dos atores e da equipe técnica aparecem na tela, as transições são feitas de forma suave e fluida, sem interromper a narrativa visual e o clima contemplativo da sequência, proporcionando uma experiência coesa e harmoniosa ao espectador.


Sem mais delongas, vamos para trilha sonora que é outra maravilha que teve produção do compositor André Sperling, muito conhecido em outras trilhas de novelas com os seus temas instrumentais. Ao todo tivemos 15 faixas e o escolhido para representar a minissérie na capa do disco foi o personagem Carlos Eduardo (Fábio Assunção), que aparece sério em todas as fotos. Já no encarte é possível encontrar belas fotografias, em especial uma Maria Monforte que poderia muito bem ter sido a escolhida para estar na capa, pois ela estava ótima.

O diretor Luiz Fernando Carvalho, passou um ano buscando os compositores e as obras certas para ambientar essa bela história. A trilha de Os Maias contou com a gravação especial de uma peça sinfônica, com composições originais do maestro John Neschling, gravadas na Sala São Paulo, em 2000. Isso sem falar na participação do grupo português Madredeus, que trouxe um certo charme para seleção e com certeza é considerada a cereja desse bolo fonográfico.

“Estava eu posto em sossego, após uns vinte anos sem escrever música incidental, certo de que minha carreira de regente tinha emplacado e que a composição era uma agradável memória, quando o Luiz Fernando Carvalho um dia me telefonou. Mentir: quem me telefonou foi a Carla, a secretária dos meus sonhos. Insistiu tanto (no fundo eu estava morrendo de medo de voltar a sentar ao piano com a angústia de olhar para a página em branco sabendo que havia data marcada para enchê-la de bolinhas e pausas), que acabei conversando… e dessa conversa surgiu a minha primeira composição neste milênio. Tive um prazer enorme em escrever temas para Eça de Queiroz, meu primeiro grande amor literário, pensar em Lisboa, minha primeira grande paixão europeia. E voltei a compor com a gana que no fundo sempre sabia que estava só escondida e que o Luiz teve a inspiração de reevocar”, contou John Neschling, para o encarte da trilha musical da minissérie.

Foto: Divulgação/TV Globo
Fábio Assunção em 'Os Maias', 2001

Tirando as canções portuguesas, temos outros temas sinfônicos que são assinados por John Neschling e a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo. Nos anos em que está à frente da Osesp, o regente estabelece o principal paradigma de qualidade em termos de organização e nível de performance de música sinfônica no país. Ao todo estão presente no disco seis canções de John Neschling: “Preludio”, “Fado”, “Tema de Infância”, “Tema de Amor”, “Valsa” e o “O Velho”.

Muito conhecido nas trilhas das novelas, aqui também temos belas composições de André Sperling, um instrumentista brasileiro de destaque, conhecido por sua versatilidade e habilidade musical. No total está presente na trilha 4 faixas: “Ramalhete”, “Poemas de Amor”, “Por Ti” e “Tristes Dias”.

Contudo, um dos grandes destaques dessa seleção ficou com o grupo musical português, formado em 1985, Madredeus, conhecido por sua fusão única de música tradicional portuguesa com influências modernas e eruditas. A banda conquistou reconhecimento internacional e é frequentemente associada ao fado, embora seu estilo vá além desse gênero.

Foto: Divulgação/TV Globo
Maria Luisa Mendonça e Selton Mello

A canção escolhida para ser o tema de abertura e das principais cenas dos protagonistas da minissérie foi “O Pastor”, interpretada perfeitamente pela vocalista Teresa Salgueiro. A composição apresenta um arranjo potente que se diferencia das demais faixas, além de sugerir uma reflexão sobre a inevitabilidade da mudança e a impossibilidade de retornar ao passado

"O Pastor" foi composta por Pedro Ayres Magalhães (letra) e Rodrigo Leão (música). Ambos são membros fundadores do Madredeus e foram fundamentais na criação do som distintivo da banda.

Para nossa alegria, temos a música "Haja o que Houver" é uma canção que exemplifica a habilidade do Madredeus de criar músicas que são emocionalmente ressonantes e musicalmente sofisticadas. Lançada como parte do álbum O Paraíso em 1997, a canção continua a ser uma das mais amadas do grupo, destacando-se por sua beleza melódica e a profundidade de sua letra. A promessa de amor incondicional e a resiliência expressa na canção garantem que "Haja o que Houver" permanecerá um clássico atemporal na música portuguesa.

A letra da composição representa muito bem o eu lírico e se encaixa perfeitamente com o par romântico formado pelo frágil e apaixonado Pedro da Maia (Leonardo Vieira) e a negreira Maria Monforte (Simone Spoladore). A interpretação de Teresa Salgueiro é central para o impacto da canção. Sua voz emotiva e pura transmite a sinceridade e a intensidade da letra, criando uma conexão profunda com o ouvinte.

Foto: Divulgação/TV Globo
Maria Luisa Mendonça em 'Os Maias', 2001

O grupo teve mais duas canções inseridas na trilha: “As Ilhas dos Açores”, com um ritmo bem suave e “Matinal” que exibe um clima de suspense e mistério.

A canção "Fado" foi escrita por Dulce Pontes e lançada no álbum Lágrimas em 1993. Sua composição reflete uma profunda conexão com as raízes culturais portuguesas, especificamente com o gênero musical fado, que é conhecido por sua expressividade emocional e suas letras melancólicas.

Dulce Pontes é conhecida por sua capacidade de fundir elementos tradicionais com toques contemporâneos. "Fado" foi inspirada pela rica tradição do fado português, um estilo musical que frequentemente aborda temas de saudade, perda, amor e a condição humana. Pontes procurou capturar a essência do fado em sua pureza, enquanto também trazia uma nova energia e vitalidade ao gênero.

Foto: Divulgação/TV Globo
Ana Paula Arósio e Paulo Betti

Além disso, temos um fado de Dulce Pontes. Por inúmeros vezes nos deparamos com cenas carregadas de sentimentos ou até mesmo com conflitos internos que se conectam perfeitamente com os arranjos musicais que se fazem presentes na maioria das cenas.

Se você ainda não assistiu essa trama, eu aconselho que procure por ela e tire as suas próprias conclusões. Ouvir somente a trilha musical já é bom, agora, ouvir e ver a minissérie é melhor ainda.



Trilha Sonora
01.
 Preludio – John Neschling & Orquestra Sinfônica
02. Fado – John Neschling & Orquestra Sinfônica
03. O pastor – Madredeus
04. Ramalhete – André Sperling
05. As Ilhas dos Açores – Madredeus
06. Tema da infância – John Neschling & Orquestra Sinfônica
07. Fado – Dulce Pontes
08. Tema de amor – John Neschling & Orquestra Sinfônica
09. Haja o que houver – Madredeus
10. Poemas de amor – Andre Sperling
11. Valsa – John Neschling & Orquestra Sinfônica
12. O velho – John Neschling & Orquestra Sinfônica
13. Por ti – André Sperling
14. Matinal – Madredeus
15. Tristes dias – André Sperling.

Ficha Técnica
Autoria: Maria Adelaide Amaral |Colaboração: Vincent Villari e João Emanuel Carneiro Direção: Emílio Di Biasi e Del Rangel |Direção-geral: Luiz Fernando Carvalho |Direção de núcleo: Luiz Fernando Carvalho Período de exibição: 09/01/2001 – 23/03/2001 |Horário: 23h | Nº de Capítulos: 42

Fontes de Pesquisa: Site Memória Globo; Site Teledramaturgia.

Foto: Divulgação/TV Globo
Fabio Assunção em 'Os Maias', 2001


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