Se você ainda não leu, recomendo começar pela primeira parte, que já está disponível clique aqui para acessá-la. Agora, prepare-se para mergulhar nos bastidores de A Padroeira, considerada a novela menos lembrada de Walcyr Carrasco, autor de grandes sucessos.
Operação Resgate dos pontos
Na semana de estreia, A Padroeira fez uma entrada triunfante nos lares brasileiros, conquistando uma média gloriosa de 31 pontos na audiência. No entanto, como um navio que enfrenta uma tempestade repentina, a novela rapidamente viu sua audiência cair para uma média de 23 pontos já na terceira semana.
Mas as tribulações não pararam por aí. Em julho de 2001, veio um golpe ainda mais duro: Walter Avancini, o mestre por trás dos bastidores, afastou-se da trama devido a problemas de saúde. Infelizmente, Avancini não conseguiu ver o final de sua obra-prima, pois veio a falecer pouco depois, em 26 de setembro de 2001, aos 66 anos de idade, vítima de câncer na próstata. Sua partida deixou um vazio na equipe e um luto na indústria televisiva.
Para preencher o vazio deixado por Avancini, entrou em cena Roberto Talma, que assumiu o leme da novela. Determinado a salvar a trama das trevas da baixa audiência, Talma começou a fazer mudanças drásticas, como um alquimista tentando transformar chumbo em ouro. Sua missão era clara: revigorar a trama e atrair de volta o público perdido.
Foto: Divulgação/TV Globo
Assim que assumiu o comando da novela, o diretor não perdeu tempo e logo fez algumas exigências para dar uma nova vida à trama das 18 horas.
Foto: Divulgação/TV Globo
Mariana Ximenes em 'A Padroeira' 2001
“Está na hora de investir na história de amor. É o envolvimento de Valentim e Cecília, com seus encontros e desencontros, que sustenta a história”, revelou o diretor a revista Contigo.
Até mesmo as personalidades de certos personagens foram submetidas a mudanças drásticas, tudo para cativar a atenção do público. Imaculada, antes retratada como uma mulher amargurada e sombria, foi transformada em uma vilã caricata e hilária. Sua presença na tela agora garantia risadas e olhares de desaprovação, criando um equilíbrio perfeito entre o mal e o humor.
“Estreei na tevê com o Avancini. Então, perdê-lo ao longo da novela foi muito difícil. É um dos trabalhos mais estranhos da minha carreira. O jeito foi seguir em frente do jeito que desse”, relembrou Savalla. (Jornal Correio do Estado, 29 de junho de 2021)
Foto: Divulgação/TV Globo
Outra estratégia que se mostrou muito eficaz foi a introdução de um núcleo de humor na trama. Para isso, foi criada uma trupe de músicos mambembes liderada pela carismática Dorotéia, interpretada pela talentosa Susana Vieira. Essa turma movimentava o dia a dia da Vila de Guaratinguetá com suas travessuras e confusões, proporcionando momentos de diversão e descontração para o público.
Além disso, a novela também testemunhou a entrada e saída de alguns atores. Os que deixaram a novela, reclamaram por não serem avidados. De acordo com Raquel Nunes (que vivia a Celeste), nenhum comunicado oficial foi feito até agora.
Para acelerar o ritmo da trama, o diretor contou com a colaboração do diretor geral Mário Márcio Bandarra. Juntos, realizaram a regravação de algumas cenas, resultando em um avanço significativo na produção. Ao invés dos 18 capítulos de frente que eram comuns na gestão anterior, a equipe decidiu reduzir para apenas nove. Essa mudança não apenas proporcionou uma maior agilidade na narrativa, mas também permitiu que a trama mantivesse os telespectadores ansiosos pelo próximo episódio, sem perder o ritmo. Foi como se a novela estivesse em uma maratona, correndo em alta velocidade para conquistar a atenção do público a cada novo episódio.
"Uma repórter ligou para a Maria Ribeiro (que interpreta a Rosa Maria) e perguntou o que ela achava de deixar da novela. A Maria foi saber o que estava acontecendo e descobriu que nós todos íamos sair. O pior foi a atitude do Talma. Ele podia perder cinco minutos do seu precioso tempo e falar conosco, nos tratar com dignidade e respeito.” (O Estado de S. Paulo)
Foto: Divulgação/TV Globo
Patrícia França em 'A Padroeira'
Em defesa ao novo diretor, Walcyr Carrasco comentou sobre as críticas recebidas ao jornal O Estado de São Paulo, sobre as mudanças em sua trama.
"O que o Talma está fazendo é imprimir seu estilo vigoroso às cenas românticas. Tudo está sendo feito com a minha participação [...] Quem assistiu a outras novelas minhas sabe que entrada e saída de personagens é absolutamente comum e normal no meu estilo. Estou particularmente feliz por poder contar com uma atriz como a Suzana Vieira. É absolutamente normal, depois de um mês de estreia, uma avaliação da novela. Nesse caso, só virou notícia por causa da entrada de um novo diretor, motivada pela doença do Avancini. O resto é especulação. Criar, recriar, dar reviravoltas, transformar a história é parte do processo de trabalho de uma novela, comum a todos autores. Às vezes, a interpretação de um ator é tão surpreendente, que ele acaba criando mais espaço na trama, abrindo novos caminhos para o autor. É o que está acontecendo, por exemplo, com a personagem da Imaculada, da Elizabeth Savalla, que ela está fazendo genialmente."
Outra mudança marcante ocorreu nos guarda-roupas dos personagens principais, que abandonaram os trajes austeros em favor de roupas mais coloridas e leves. Foi como se um sopro de frescor invadisse o visual dos protagonistas, substituindo os tons sóbrios por uma paleta vibrante e cheia de vida. Essa transformação não apenas refletiu as mudanças na trama, mas também adicionou uma nova camada de profundidade aos personagens, destacando suas personalidades e emoções de maneira mais vívida.
Foto: Divulgação/TV Globo
Elisabeth Savalla em 'A Padroeira'
Agora, os telespectadores podiam não apenas acompanhar a evolução da história, mas também testemunhar visualmente a jornada dos protagonistas através de suas roupas. Era como se o guarda-roupa se tornasse um espelho da alma dos personagens, refletindo suas mudanças e crescimento ao longo da novela.
À medida que o tempo passava, os números de audiência da novela começaram a subir gradualmente. No entanto, na reta final, um acontecimento inesperado mudou drasticamente os planos da produção: a trama foi esticada em cerca de 80 capítulos devido ao cancelamento da novela sucessora, Dança da Vida, que estava nas mãos de Maria Adelaide Amaral. Em seu lugar, entrou Coração de Estudante.
Mesmo diante desses desafios, A Padroeira continuou a cativar o público, conquistando uma média respeitável de 26 pontos no Ibope. Vale ressaltar que cada ponto no Ibope representa aproximadamente 80 mil telespectadores na Grande São Paulo. No entanto, a média esperada era de 30 pontos, o que indica uma pequena queda em relação às expectativas iniciais. Mesmo assim, o fato de a novela ter superado tantos obstáculos e ainda assim alcançado uma audiência significativa é um testamento ao seu impacto e à dedicação de sua equipe.
À medida que o tempo passava, os números de audiência da novela começaram a subir gradualmente. No entanto, na reta final, um acontecimento inesperado mudou drasticamente os planos da produção: a trama foi esticada em cerca de 80 capítulos devido ao cancelamento da novela sucessora, Dança da Vida, que estava nas mãos de Maria Adelaide Amaral. Em seu lugar, entrou Coração de Estudante.
Mesmo diante desses desafios, A Padroeira continuou a cativar o público, conquistando uma média respeitável de 26 pontos no Ibope. Vale ressaltar que cada ponto no Ibope representa aproximadamente 80 mil telespectadores na Grande São Paulo. No entanto, a média esperada era de 30 pontos, o que indica uma pequena queda em relação às expectativas iniciais. Mesmo assim, o fato de a novela ter superado tantos obstáculos e ainda assim alcançado uma audiência significativa é um testamento ao seu impacto e à dedicação de sua equipe.
Foto: Divulgação/TV Globo
Murilo Rosa e Mariana Ximenes
No geral, A Padroeira é uma das tramas escritas por Walcyr Carrasco que recebe pouca atenção da emissora ao longo dos anos. Esse fato ficou evidente em outubro de 2016, quando a Globo tomou uma decisão sem precedentes: pela primeira vez, cedeu gratuitamente uma produção de dramaturgia para outra emissora. A exibição na TV Aparecida marcou os 300 anos do achado da imagem da Santa pelos pescadores no Rio Paraíba.
Nesse momento especial, a TV Aparecida teve a oportunidade de resgatar a novela, proporcionando aos telespectadores uma nova chance de vivenciar essa história emocionante. A emissora arcou apenas com os direitos de imagem do elenco e os direitos autorais das músicas incluídas na trilha sonora da novela. A decisão da Globo de compartilhar essa produção histórica foi um gesto de generosidade e reconhecimento da importância cultural e religiosa da trama.
Dessa forma, A Padroeira ganhou uma nova vida na TV Aparecida, sendo exibida novamente em 2017 e celebrando não apenas a história dos pescadores e da santa, mas também o poder duradouro da televisão em unir e emocionar as pessoas através de narrativas poderosas e inspiradoras.
Você já sabia disso?
01 - A Padroeira foi inspirada em uma ideia original do talentoso diretor Walter Avancini. Infelizmente, devido a problemas de saúde, Avancini teve que se afastar da novela em julho de 2001. Apesar de sua luta, ele faleceu apenas dois meses depois, em setembro de 2001. Sua visão e criatividade deixaram uma marca indelével na produção, que seguiu em sua memória;
02 - Segundo o autor Walcyr Carrasco, todos os eventos relacionados à imagem da santa retratados na novela são verídicos e documentados pela Igreja Católica, embora tenham ocorrido em datas diferentes das apresentadas na trama. Nossa Senhora Aparecida foi proclamada padroeira do Brasil em 1929 pelo Papa Pio XI. (Memória Globo)
03 - A equipe de figurino de A Padroeira estabeleceu um ateliê completo, contando com dez costureiras e alfaiates para criar todas as roupas da novela. Além disso, incluíram bordadeiras e especialistas em couro para confeccionar cintos, coletes e bolsas, bem como um sapateiro responsável pelos calçados. Diversas peças do acervo de figurino do Projac foram restauradas e adaptadas para atender ao grande número de figurantes. As cores das roupas foram inspiradas na paleta do pintor Pieter Bruegel (1525-1569). (Memória Globo)
Foto: Divulgação/TV Globo
Nesse momento especial, a TV Aparecida teve a oportunidade de resgatar a novela, proporcionando aos telespectadores uma nova chance de vivenciar essa história emocionante. A emissora arcou apenas com os direitos de imagem do elenco e os direitos autorais das músicas incluídas na trilha sonora da novela. A decisão da Globo de compartilhar essa produção histórica foi um gesto de generosidade e reconhecimento da importância cultural e religiosa da trama.
Dessa forma, A Padroeira ganhou uma nova vida na TV Aparecida, sendo exibida novamente em 2017 e celebrando não apenas a história dos pescadores e da santa, mas também o poder duradouro da televisão em unir e emocionar as pessoas através de narrativas poderosas e inspiradoras.
“A novela é a maneira preferida do brasileiro para assistir às histórias e um presente para os devotos que estarão em festa no próximo ano”, afirma o diretor de Programação da TV Aparecida, padre William Betonio. (Splash – UOL)
Foto: Reprodução/TV Aparecida
01 - A Padroeira foi inspirada em uma ideia original do talentoso diretor Walter Avancini. Infelizmente, devido a problemas de saúde, Avancini teve que se afastar da novela em julho de 2001. Apesar de sua luta, ele faleceu apenas dois meses depois, em setembro de 2001. Sua visão e criatividade deixaram uma marca indelével na produção, que seguiu em sua memória;
02 - Segundo o autor Walcyr Carrasco, todos os eventos relacionados à imagem da santa retratados na novela são verídicos e documentados pela Igreja Católica, embora tenham ocorrido em datas diferentes das apresentadas na trama. Nossa Senhora Aparecida foi proclamada padroeira do Brasil em 1929 pelo Papa Pio XI. (Memória Globo)
03 - A equipe de figurino de A Padroeira estabeleceu um ateliê completo, contando com dez costureiras e alfaiates para criar todas as roupas da novela. Além disso, incluíram bordadeiras e especialistas em couro para confeccionar cintos, coletes e bolsas, bem como um sapateiro responsável pelos calçados. Diversas peças do acervo de figurino do Projac foram restauradas e adaptadas para atender ao grande número de figurantes. As cores das roupas foram inspiradas na paleta do pintor Pieter Bruegel (1525-1569). (Memória Globo)
Foto: Divulgação/TV Globo
Murilo Rosa em 'A Padroeira' 2001
04 - Uma cidade cenográfica de 12 mil m² foi erguida na Central Globo de Produção (Projac) para recriar a vila de Guaratinguetá. Essa vila inclui as casas principais e periféricas, uma igreja, uma praça central e um entreposto comercial frequentado pelos tropeiros. (Memória Globo)
05 - Para recriar o século XVIII na novela, as equipes de figurino, arte e cenografia mergulharam em uma vasta pesquisa utilizando inventários, livros, filmes e documentos antigos. Fragmentos encontrados em navios portugueses no fundo da Baía de Guanabara, preservados no Museu Naval do Rio de Janeiro, serviram como referência essencial. Esses achados inspiraram a fabricação de peças de cerâmica e estanho utilizadas nas gravações. Além disso, a produção contou com réplicas precisas de estribos, celas e liteiras da época, garantindo autenticidade e riqueza de detalhes nas cenas. (Memória Globo)
06 - O personagem Zacarias, interpretado por Norton Nascimento, foi inspirado em uma figura histórica real, conforme revelado pelo autor. Esse escravo deixou uma marca tão significativa que seus grilhões, símbolos de sua luta e história, estão em exposição até hoje na Basílica de Nossa Senhora Aparecida, localizada na cidade de Aparecida do Norte. Esses grilhões servem como um poderoso lembrete do passado e do legado de Zacarias, preservando a memória de sua vida e das adversidades que enfrentou.
Foto: Divulgação/TV Globo
Renata Nascimento em 'A Padroeira' 2001
08 - Pela primeira vez na história, uma novela da Rede Globo foi transmitida por um canal que não fazia parte de seu grupo (dentro do território brasileiro). A Padroeira, que nunca havia sido reprisada pela própria emissora na TV aberta, ganhou uma nova vida quando foi exibida pela TV Aparecida, quinze anos após sua estreia original. Essa emocionante reapresentação aconteceu entre os dias 17 de abril e 22 de dezembro de 2017, em dois horários distintos: às 19h e às 22h30, proporcionando aos telespectadores a oportunidade de reviver essa história marcante.
09 - As cenas iniciais da novela contaram com uma grandiosa equipe de produção composta por 230 pessoas. Para dar vida às ambientações, 90 figurantes foram mobilizados para ocupar a fazenda Santa Rosa, localizada em Paciência, na Zona Oeste do Rio de Janeiro. Esse esforço conjunto foi essencial para criar as primeiras imagens memoráveis que deram início à trama.
11 – Na parte de cenografia, um dos pontos altos é a construção de um rio que se estende por 30 metros, integrando-se ao núcleo da vila dos pescadores. Essa representação detalhada do rio adiciona uma camada extra de autenticidade ao ambiente, enriquecendo visualmente as cenas e proporcionando um cenário deslumbrante para as histórias se desenrolarem.
14 – Patrícia França brilhou ao interpretar a vilã Blanca, cuja trajetória ganha vida quando ela foge da Espanha para escapar da Inquisição. Essa fuga dramática adiciona profundidade à personagem, revelando sua história de desafios e conflitos que a levaram ao Brasil em busca de refúgio. A interpretação de França trouxe à tona toda a complexidade e intensidade dessa personagem, cativando a audiência com sua performance convincente.
“No começo, falava quase em castelhano. Mas a direção pediu que eu falasse mais portunhol, o que é mais fácil do que usar o idioma corretamente. O sotaque sempre acrescenta muito ao personagem. É mais engraçado.” (O Globo – 15 de julho de 2001)
15 – Em 2001 foi lançado pela editora Globo, o livro A Padroeira: A História de Nossa Senhora Aparecida. Nele além de termos acesso a história de nossa Senhora, também podemos ver algumas fotos que só tem nele do elenco da novela.
16 – Durante a gravação da novela, dois dos protagonistas, Deborah Secco e Maurício Mattar, começaram a se envolver romanticamente. O clima de bastidores parece ter aproximado o casal, e o relacionamento logo se tornou público, chamando a atenção tanto da mídia quanto dos fãs. O namoro dos namorados durou até o ano de 2002, período em que ambos estiveram em destaque na televisão.
17 – Yoná Magalhães saiu da novela para integrar o elenco de As Filhas da Mãe (2001), às 19h, e, com isso, não interpretou mais a mãe desaparecida de Valentim, função que passou para Dorotéia. Stenio Garcia foi deslocado para O Clone (2001), às 20h, onde seu personagem, Dom Antônio, que se opôs ao relacionamento de Diogo com Isabel, morre em um duelo. Antes da estreia, Otávio Augusto substituiu Ney Latorraca no papel do poeta Manuel.
Foto: Divulgação/TV Globo
Deborah Secco e Mauricio Mattar
Fontes de pesquisas: Revista Veja; Revista Amiga; Revista Contigo; Revista Cartaz; Jornal Folha de São Paulo; Jornal O Estado de São Paulo; Jornal Correio do Estado; Livro Almanaque da TV; Livro Teletema: A História da Música Popular Através da Teledramaturgia Brasileira - Vol. 1 1964 a 1989; Livro Vida do Viajante: A Saga de Luiz Gonzaga; Memória da Telenovela Brasileira; Site Uol; Site Teledramaturgia; Site Memória Globo; Blog Revista Amiga e Novelas.
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Bastidores